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Casa de Polayne e a noite em que fomos "arrastados" - por Paçoca Psicodélica

Atualizado: 4 de abr. de 2020

Patricia Polayne retorna ao Rio de Janeiro e em seu primeiro show da temporada na cidade faz noite intimista e emocionante na Casa de Luzia, Lapa.



Se for de bom agouro começar o ano assistindo a shows de Música Brasileira, quem esteve na Casa de Luzia no dia 3 de janeiro para ver Patricia Polayne está coberto de Axé! O espaço que traz em seu nome a homenagem a Luzia ( mais antigo fóssil de mulher brasileira já encontrada por arqueólogos ) fica na Lapa, no local do antigo Semente e sem dúvida é uma das casas mais charmosas, de equipe atenciosa, divertida e de melhor atendimento na região central da cidade.



Ficou de cara, mas foi só por pouco tempo que o mau grado desatento despertou sua atenção. Será o benedito que meu argumento sem metáforas, só movimento caiba na canção


A primeira apresentação da volta de Patricia Polayne ao Rio de Janeiro foi muito aguardada por todos pois a cerca de três anos ela não visitava a cidade. O local estava confortavelmente cheio, com muitos novos e antigos amigos, familiares e fãs da sergipana que por volta de 22h subiu ao palco em silêncio, quase meditativa e coberta de cores pegou seu violão e nos hipnotizou. Logo nos primeiros minutos divaguei e a vi lado a lado com outras mulheres que nos encantam com sua voz, poesia e violão. Pensei em Joan Baez, Violeta Parra, Adriana Calcanhoto.



Te querendo, tô te querendo navegar



Entre poemas e canções de abertura que Polayne nos deu, o final de Circo Singular que traz um verso de Samba de Côco lá de Sergipe, foi o primeiro a ser cantado como refrão pelo público: "Sei ler mas não sei contar! Sei pegar na pena, mas num sei assoletrar...". Essa lindeza se repetiu em Arrastada (que ela afirma se tratar de um "arrocha" que fez por sugestão de Caique Moreno, seu filho) com nossas vozes em alternância com a de Patricia e estava encaixando tão certinho que me emocionei como se fizesse parte do coro da gravação da música.



Ela ganhou do rei a condecoração Entrou pra casa do quinhão, mas enfrentou recepção hostil E descobriu que o novo que tanto procurava

não estava na grandeza, mas no menor do Brasil



O show crescia em seu realismo mágico com canções inéditas do próximo álbum, releituras de grandes sucessos, a participação de seu filho no pandeiro, um "Fora Bolsonaro" sussurrado (que nos causou frison e orgulho) e uma surpreendente versão dos Tincoãs, na qual cantou para Ogum e Xangô em agradecimento e prece por conta da transição de regência dos Orixás de 2019 para 2020. Palmas, muitas e um intervalo porque sim, haveria mais!


Te querendo, tô te querendo navegar



Patricia Polayne retornou por volta de 00h porque era muito abraço e brinde e beijo, certíssima. E foi esse aconchego, essa proximidade que deu o tom da segunda parte do show: parabéns pra você para Cladeute Farias (mãe da artista, aniversariante da noite e a "matriarca da tribo" ), comentários dos amigos, gritinhos, palmas e nosso cantar junto como se estivéssemos de fato na sala de sua casa, como ela mesma assinalou cheia de gratidão.



Ser de pano, boneca de trapo já sofreu tanto maltrato desse típico sertão. Brincou com a morte, dançou na casa da sorte, levantou saindo em disparada rumo ao coração



Se a Casa de Luzia, tornara-se Casa de Polayne, nada demais a cria, Caique Moreno, retornar à frente para uma dancinha ( fazendo juz a fala de uma senhora da plateia "então é você que gosta de Arrocha, né?") e para nossa surpresa, encerrar com um Rap de sua autoria sob os olhos brilhantes e orgulhosos da mãe coruja.



Te querendo, tô te querendo navegar



Outras canções muito queridas como Lentes de Contato e Sapato Novo (minha deusa, que interpretação maravilhosa), nos encheram de "sol" e mesmo ao falar de fundo do poço (quem é que nunca esteve lá, não é mesmo?) a atmosfera teatral nos conduzia. Encanto que se quebrava momentaneamente com agradecimentos e a fala modesta de quem se dizia desafiada por estar fazendo o show sem a banda, o formato de costume. Nunca saberíamos, estava perfeita.



Oh, misterioso rio

Fundo, caudaloso feito uma mulher,

E a poesia

(vai me arrastar até o mar)

E a navegação

(vai me arrastar)

O sonho que sonhei é outro

(vai me arrastar até o mar)

A vida que criei é minha

(vai me arrastar)



Fechando a noite, o bis foi com Arrastada e não poderia ter sido melhor a escolha pois assim nos sentimos naquela noite: "arrastados" pela poesia, teatralidade e encanto da cultura nordestina e de tantas outras manifestações que se encontram na arte de Patricia Polayne.



A poesia (vai me arrastar até o mar) E a navegação (vai me arrastar) O sonho que sonhei é outro (vai me arrastar até o mar) A vida que criei é minha (vai me arrastar)


Letra de Arrastada, de Patricia Polayne.


***



A Casa de Luzia fica na Rua Evaristo da Veiga com Joaquim Silva, 149. Lapa. Rio de Janeiro.


Você poderá ver Patricia Polayne ao menos em ainda 2 shows no Rio neste Janeiro, dia 11 em santa Teresa e dia 26 em Botafogo. Acesse a página da artista e confirme presença!




Imagens: Vic Morphine



***


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