Quem gosta de música e acompanha a cena underground já reparou que nos últimos três ou
quatro anos ela mudou muito. Pras mulheres e LBTQ+ essa mudança tá sendo drasticamente
boa. Na maior parte, esses lugares alternativos são criados por elas, inclusive.
Hoje não é tão difícil encontrar os tais dos espaços seguros que a gente vive falando, e com
"espaço seguro" não me refiro apenas a ambientes onde você não sofre abuso, me refiro a um
ambiente onde você não vai ouvir um comentário preconceituoso (direcionado a você ou não)
e onde sente que pode baixar a guarda por um momento. Falando assim parece uma coisa
meio óbvia, meio básica, né? Infelizmente não é.
A Motim é um centro de cultura e livre criação focada no empoderamento de mulheres no Rio
de Janeiro. Ele nasceu em 2016 logo após uma onda de denúncias feitas por mulheres contra produtores, artistas e administradores de espaços culturais no Rio. Duas amigas alugaram uma sala no centro da cidade para hospedar projetos feministas independentes e construir um espaço seguro para artistas e produtoras. De lá pra cá, a casa abrigou uma programação constante de oficinas, cursos livres, rodas de conversa, trabalhos manuais, festivais de música, ensaios de bandas, gravações, exposições e todo tipo intervenção artística que se propusesse a ocupá-la, até 2018, quando encerrou as atividades
por tempo indeterminado.
“Quando se tem uma curadoria feita por mulheres com diferentes vivências e espaços de fala,
automaticamente já estamos transformando a maneira de fazer cultura na cidade. A Motim
representa mais do que resistência num cenário de escassez, representa construção de um
caminho paralelo, mesmo. A ideia é poder desenvolver um novo fazer artístico, em que seja
possível ressignificar as velhas ferramentas, as mesmas que excluem e discriminam desde
sempre, respeitando a pluralidade e a diversidade de fala”, Larissa Conforto, artista carioca e
colaboradora da casa.
Se eu não me engano conheci a Motim no meio tempo em que estavam sem uma sede, moro
no interior de SP, então sempre acompanhei de longe. Quando anunciaram a data da reinauguração, resolvi ir. Ver uns shows, encontrar amigos da internet e tudo mais. Meu encontro com a Motim começou assim que cheguei no Rio de Janeiro na Sexta, conheci três mulheres (aleatoriamente, no hostel e na rua) e quando mencionei a Motim, toda resposta foi "Conheço", seguida de um sorriso. Não sei você, mas isso já me diz muita coisa. Se você que tá lendo até aqui já frequentou a Motim, você provavelmente acabou de ter a mesma reação dessas pessoas. Se você que tá lendo até aqui nunca foi na Motim e imagina um lugar acolhedor cheio de arte, você está certo.
15 de fevereiro de 2020. Cheguei cedo, cumprimentei amigas e imediatamente fiz novas amizades. Conversas sobre aquele projeto que achamos interessante, sobre nossa banda (na maioria das vezes), blog, podcast, canal do Youtube, zine, todo mundo fazendo alguma coisa, uma completamente diferente da outra. Se você tem alguma dúvida de que a arte conecta as pessoas, você precisa ir a um desses espaços. Esses lugares também estimulam a criação, você chega lá, vê, se inspira e sai fazendo o seu. Em uma só noite fiz várias amizades. Não que eu frequente lugares com pessoas hostis, mas elas não costumam ser acolhedoras. Eu fui sozinha pro role e me senti muito bem. E pra mim isso ainda é muito novo, não sei se outras pessoas se identificam com isso ou se é porque moro em cidade pequena e falta tudo.
No meio de tudo isso, o espaço que foi reinaugurado Sábado, 15/02, depois de uma campanha
de crowdfunding levou um pouco do que a Motim representa: Exposições de Artes LatLong (adereços, pintura e bordado com inspirações do dia a dia, política, geografia, sexualidade e feminismo), Sapa Orelhuda (coletiva de artes especializada em criar adereços para corpos brincantes), Yaya Ferreira (poeta e artista visual), CoStela (identidade artística criadora e amante de desenhos), flash tattoo por Tatyane Menendes, lançamento do zine;Mente em Sã consciência; de Alex Ander, performance burlesca de Chayenne F. e uma performance ; musico-corporal trazendo reflexões e deboche sobre o- CisTema-hegemônico & Patriarcal; de Fabiane Albuquerque.
Além da música:
O setlist da Kinderwhores formou meu caráter. Tem Distillers, L7, Breeders, Hole (toda mulher
deveria ter uma banda cover de Hole uma vez na vida), Bikini Kill, etc. E é na pegada desse
Punk Rock que a banda faz suas músicas autorais.
DEF é uma banda de Math Rock e Emo (anos 90 e revival) e esse som é bem característico, se
não conhece, recomendo que você ouça pra entender, é bem melódico e técnico. Cheguei a
comentar: Quando eu ouço parece ser bem complicado e agora que tô vendo, não faço ideia do que tá acontecendo no palco; O disco novo; Sobre os Prédios Que Derrubei Tentando Salvar o Dia, Parte II; é a coisa mais linda, vão ouvir.
Àiyé é o projeto experimental de Larissa Conforto, ritmista e artista sonora talvez mais
conhecida no nosso mundinho por ser baterista da Ventre. É difícil descrever um show de
música experimental, é uma imersão sonora muito grande, no caso de Àiyé é música
eletrônica. Recomendo muito ir a um show quando possível, além de ouvir em casa, de fones,
por favor.
Bom, esse texto foi uma carta de amor à Motim. Não consigo repetir o suficiente o quanto
esses espaços são necessários, o pessoal tá conseguindo criar eles em eventos em São Paulo,
aqui no interior acho que estamos começando e a Motim ter uma sede é muito significativo.
Mesmo que só as vezes e na correria que costumam ser esses eventos (pois você vê todo
mundo de uma vez) a gente precisa se conectar, faz toda a diferença.
Vida longa à Motim! Atualmente ele é administrado por Roberta Vieira, Hanna Halm, Larissa Conforto, Letícia Lopes, Marcelle Helt, Thaís Catão e Vitoria Parente, vão no Instagram da Motim pra conhecer os outros projetos desse time.
Entre em contato em faça seu show, festa, oficina, debate, ensaio, curso, feira ...
Bandas
Kinderwhores: https://www.facebook.com/kindervvhores/
Página da nossa colaboradora: Busridenotes https://linktr.ee/busridenotes
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