"Apaixone-se por você. Pela vida. Depois, por quem você quiser." (Frida Kalho)
Era uma noite fresca do outono, finalmente sozinha em casa decidira por abrir um vinho, ler um livro e relaxar. Passado desejo, lembrei-me das tarefas mais urgentes dentre elas: home office atrasado, louça na pia e cesto de roupas para lavar. Quem faz guarda compartilhada sabe quão complicado é administrar toda logística de filhos ainda mais em tempos de Coronavírus. Tendo finalizado toda as pendências resolvi descansar assistindo alguma série, foi quando o celular já no silencioso apitou por diversas vezes, já era perto de meia-noite quando levantei assustada. De outro canto da cidade vinha o pedido de "socorro" de uma amiga mãe solo. Mãe, personagem primeira do nosso texto, geralmente é aquela que "muito cuida, mas pouco é cuidada", Ser forte, plena que geralmente tudo suporta é uma das pessoas mais esquecidas nesses tempos de quarentena. Palavras como: "exaustão", "sofrimento", "morte", "ansiedade" "culpa" dentre outras compunham a mensagem. Perguntei se ela queria que eu fosse até sua casa mas ainda muito nervosa, só relatava os fatos do dia e toda situação que enfrentava. Deixei que falasse, na verdade percebi que ela só precisava de escuta, de um colo que acolhesse seu sofrimento. Não, não está sendo fácil para ninguém e certamente cada uma vive suas dores particulares mas me arrisco a dizer que se não fossemos nós , "mulheres/ mães" cuidados de nós mesmas, nossa vida estaria muito mais difícil. Sim, já questionei e questiono o tal do "feminismo meia boca", nem preciso explicar o que significa , sabemos do que se trata, mas percebo que quanto mais ele nos assombra mais a rede de amor se amplia e fortalece. Assim como dizia Audre Lorde: "Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das minhas." Confesso que a quarentena me fez ampliar a rede, e hoje fazem parte dela pessoas que nunca imaginei, amiges de pouco tempo e amigues de longa data. Quantos encontros e reencontros: meu, comigo mesma, meu com meu passado e meu com meu futuro. Cabe a nós perceber, abraçar , recuar , prosseguir e seguir adiante mesmo quando o desanimo parece que vai nos assolar. E é pensando nesse amor por nós mesmes e pelos outres que tentamos seguir em frente, sem saber quanto tempo nos resta de confinamento, quantos amigos ainda podem partir desse mundo ou até mesmo se ainda iremos nos surpreender com alguma forma de amor, sorriso, colo, abraço que mesmo virtualmente podem vir a mudar os rumos do nosso dia. Se eu acredito no amor? Sempre e pra sempre…
Texto de Karina Siciliano . Historiadora, pesquisadora e mãe solo. RJ-RJ.
Publicado originalmente em medium.com
Conheça o projeto Educafeto
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O PROJETO
Mulheres em 40ntena, novo projeto do Pedaleiras, de escrita criativa e terapêutica, de expurgo e cura para unir e divulgar os textos emocionados e emocionantes desta fase que nos tomou de assalto.
Todas estão convidadas a participar. Não precisa ser escritora profissional ou artista. Não importa sua escolaridade. Não há mínimo ou limite de idade. A ideia é justamente que seja o mais abrangente possível: com mulheres muito diferentes em questões de classe, cor, faixa etária, profissão, de credo, de região do Brasil, orientação sexual entre tantos outros aspectos mas com algo em comum: sobrevivendo à uma epidemia dentro de um quadro grave de pandemia.
O que tem sido ser MULHER nesta fase que transborda isolamento, solidão, lágrimas, perdas, ansiedade, momentos depressivos, dúvidas, medo e desespero mas também buscas profundas, mergulhos, descobertas, sorrisos, tesão, criações, retomadas, reconciliações, perdão, despertares, novos olhares, inspirações, fortalecimento, solidariedade e amor? Escreva!
Envie seu texto para portalpedaleiras@gmail.com ou para o zapzap 21993272560 com seu @ no FB, título do texto, sua profissão, idade, cidade e estado. Diga também se deseja que seu texto seja revisado gramaticalmente (tirar "erros" de Português) ou não. Pode ser poema, análise de conjuntura, carta, diário, resenha de álbum ou música, crônica, conto, lista de compras, HQ, relato de uma experiência ou qualquer outro gênero textual. Beijos, desejo que fiquemos bem. Paçoca Psicodélica.
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