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  • Foto do escritorPaçoca Psicodélica

Noite insubmissa no Aparelho - por Vic Morphine

Atualizado: 11 de mar. de 2020

Texto da pedaleira colaboradora Vic Morphine





No dia primeiro de fevereiro rolou o evento “Deixa o Rock Morrer”, organizado pela galera da Efusiva Records, Howlin’ Records, da Oxenti Rec. e pelo Pedaleiras.


O raro do rolê – de qualquer rolê – é a proposta pelo qual a reunião se desvela, isto é, o delineamento do sentido e da vibe da galera. Desse modo, o “Deixa o Rock Morrer” veio alertar para a necessidade de sepultamento de um rock antiquado, um rock de hábitos constipados. Compreendo, neste momento pós-evento, que a intenção seja de enfrentar um habitus de velha guarda, apontando parâmetros que não cabem mais na rebeldia que renasce.


É maravilhoso assistir uma série de bandas que se propuseram um discurso e uma existência que ultrapassa a própria rebeldia do estilo que os origina. Essa é uma prova viva e pulsante da propriedade regenerativa cultural, onde o underground se faz solo dolorido para a transformação social. No duro, as meninas, meninos e menines que tocaram nesse dia empunham suas pautas através das letras e da abordagens de sua arte e seu grupo.


Desse modo, o evento é uma forma de fortalecer um determinado discurso, de difundir e convencer a uma ideia e a uma urgência. Na prática, as bandas que tocaram foram:


A La Burca (SP) – Se apresentou como um trio, sendo a frontwoman uma vocalista e guitarrista poderosa, artista nata, que faz caras e bocas na interpretação das canções; o baterista, muito dedicado nas suas “funções bateris”; um guitarra, que esteve ali experimentando sensações do som noise para criar uma atmosfera inóspita entre espaço e inferno do qual eu me amarro.





A Trash no star (Nilópolis, RJ) – Power trio composto por uma vocal-guitarra - que me surpreendeu de verdade, já que me pareceu tão tímida e fofa quando falou comigo no início do rolê e, ao subir no palco, exibiu um ser mágico ultra-expressivo; mais um cara na batera e outro no baixo. Apresentaram um hard core delicioso, poderoso e com umas levadas experimentais, que empolgou o público, de maioria feminina. Uma das meninas chegou a dizer: “É para isso que eu ‘tô’ no rock: para ver a Letícia”, declaração que traduz um ponto da importância representativa. É, também, sobre representatividade e protagonismo feminino que se trata este evento.





Kinderwhores (RJ) – Banda de minas e um trans, tocam um punk rock potente de tipo riot. Muito técnicas e expressivas, tem uma interação bem bonita no palco. Observei-as se comunicar por olhares e com gestos que pareciam de apoio mútuo. Fiquei pensando no quanto eu mesma adoraria pertencer a um grupo como esse, tocar com tanta força e bravura como elas. Inspiradoras, de fato. A presença delas no palco, para além das próprias músicas, simbolizam o ativismo de seu gênero e sexualidade, visibilizando uma camada da sociedade que é, mesmo nos circuitos rock, frequentemente silenciada e inibida.





Nag Champa – Faz uma poesia gritada em forma de punk com hard core. Apresenta nova formação, com uma mina em uma das guitarras. Em uma das mensagens, o vocal menciona a vontade ou o ato de jogar “a última pá de cal nesse rock tiozinho”, referindo-se proposta de realização do evento. Delineia também a autocrítica, promovendo a reflexão sobre nossa repercussão aos velhos hábitos dentro do rock. Especificamente, ele questiona: “(…) ou será que estamos reproduzindo, em menor escala, aquilo que tanto criticamos”.





No todo, o conjunto público – bandas – agentes facilitadores (vulgo organizadores e galera de apoio) é o que forma a cena. Quer dizer que, reunidos no Aparelho, estivemos comungando uma ideia. Longe de um compilado de canções, de bandas ou subgêneros musicais, o evento organizado é marco para a fluidez de pensamento. Uma justificativa plausível para a manutenção deste evento. Deixa o Roque Morrer!



***


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